Crónica das XXIV Jornadas Libertárias de Compostela

Ao longo da semana passada tivemos a oportunidade de assistir a uma série de palestras de diversos conteúdos temáticos em Compostela, com motivo da celebração das XXIV Jornadas Libertárias promovidas pela CNT.

À procura não só de Lorca

Inauguramos as Jornadas na segunda-feira com a palestra da companheira Sònia Turón, arqueóloga da CNT que anda a trabalhar na fossa de Alfacar em Granada, comissionada pela Confederação para tratar de encontrar os restos dos 2 companheiros confederais, do mestre ateu e de Lorca.

Explicou diante de um público atento, em que havia algum arqueólogo, quem eram os companheiros assassinados pelos fascistas, sindicalistas da CNT bem comprometidos com o anarcossindicalismo, operários que no fim de semana trabalhavam também de banderilheiros, talvez espalhando as ideias, o mestre ateu assassinado também pelas suas ideias e finalmente a figura de Lorca, senhorito de uma boa família granadina e como as liortas entre «boas famílias» puderam ter propiciado a sua morte embora a explicação oficial seja de que fora assassinado por «rojo» e «maricón».

Relatou os pormenores e contratempos derivados da dificuldade de pelejar contra o mito de Lorca, os muitos atrancos para desempenhar o trabalho. Compartilhou com o pessoal todas os problemas que provoca a presença de Lorca junto com os companheiros, quer pelo «mediático» da sua figura que fez com que a escavação se tivesse enchido de jornalistas e meios de desinformação, quer pelos atrancos da família do poeta que dificultou encontrar os restos.

carlos taibo

Agora o trabalho encontra-se num «impasse» pois a chegada do outono condiciona a continuação dos trabalhos, embora se tivessem acabado de encontrar restos humanos.

Colapso

Na seguinte sessão, Carlos Taibo manteve a sua tese sobre o colapso do sistema capitalista e a impossibilidade de freá-lo ou impedi-lo. Perante um público próximo à centena, avançou os cenários próximos e posteriores ao colapso e teimou na imperiosa necessidade de nos organizarmos baixo pautas libertárias, de abaixo para acima, solidárias e ecológicas.

Alertou também para a possibilidade de reaparição de políticas ecofascistas, como as sustentadas por um setor do partido nazi, pudendo ser agora defendidas, não por grupos marginais, mas por centros de poder econónico, cada vez mais conscientes da escasseza geral que se aproxima.

carlos taibo

Da garçonne à Pin-up

Na quarta,  dia 26, pudemos ouvir Mercedes Expósito a falar das mulheres e homens no século XX que nos permitiu achegar-nos às problemáticas do feminismo e a teoria feminista, assim como aos modelos de feminidade que emergiram na primeira metade do século XX e aos processos de produção de ditos estereótipos.

Nestes dois modelos antagónicos do que representa «ser mulher», num contexto social e político convulso, a garçonne que emerge da mão do movimento sufragista, reivindicando a sua independência e igualdade com os homens, toma corpo num modo de vestir e atuar que trata de romper com o que o modelo vitoriano de feminidade propõe. Com a chegada dos totalitarismos, a pin-up, protótipo de mulher submissa, tendo como figura mais icónica Marilyn Monroe, virá a tentar substituir a figura precedente num momento pré-bélico onde é preciso exaltar as virtudes militar-virilistas da sociedade.mercedes exposito

Este movimento avante-atrás que sofre o processo emancipatório da mulher não faz mais que revalidar o errado da crença num progresso constante herdado da modernidade filosófica, sendo este mesmo vaivém extrapolável a qualquer movimento social, como é o caso da luta operária. 

A prisão e a solidariedade

Na seguinte jornada, o escritor Xosé Luís Santos Cabanas apresentou o seu livro «Novas do Exterior. 63.000 quilómetros de viaxes á cadea», uma crónica das viagens realizadas por ele e a sua companheira a distintas prisões do Estado espanhol para visitar o filho, Antom Santos, independentista preso desde 2011.

Na apresentação, Xosé Luís relatou as suas viagens e as vivências no cárcere: as do seu filho submetido ao regime FIES, destacando a convivência com o resto dos presos e a relação com os carceleiros. Mas também falou das suas próprias, os apoios recebidos e a solidariedade entre as famílias que visitam a cadeia.

Objeção de consciência eleitoral?

amparo rodriguezNo último dia de palestras, Amparo Rodríguez começou com um repasso histórico pelas origens dos diferentes tipos de objeção de consciência, para passar a expor o seu caso de objeção eleitoral trás ser chamada a fazer parte de uma mesa no barco de Valdeorras.
Referenciou os dous grupos de apoio existentes a nível estatal (Tortuga e Des-censo electoral), que assessoraram e acompanharam nos distintos passos seguidos  para se declarar objetora.

Ofereceu os dados desde as eleições europeias de 2014 com um número de 500.000 pessoas chamadas a participar das mesas, com 10% que não acode justificada ou injustificadamente, 27 das quais declaradas insubmissas. Destas últimas, a 23 nada lhes aconteceu, 2 foram condenadas a multas e uma, a companheira Amparo, foi a primeira no estado a quen lhe foi concedida a isenção de se apresentar na mesa.

Homenagem à Coluna Sanfins

No domingo, como ato de finalização das Jornadas Libertárias, deslocamo-nos até as minas de Sanfins para participarmos na homenagem que o grupo de Memória Histórica da CNT Galiza, junto com Sociedade Histórica e Cultural «Coluna Sanfins», organizava para resgatar este feito histórico de resistência ao golpe militar fascista de 1936.

A jornada começou com uma palestra no antigo local sindical da CNT em que participaram Xerardo Agrafoxo, Pepe Sendón, Joám Evans Pim, Lorena Cuevas e Eliseo Fernández que ofereceram às e aos assistentes uma imagem geral do que foi a Coluna Sanfins, a sua repercussão e importância no contexto galego da organização operária do sindicato mineiro.

Homenaxe á Coluna SanfinsTrás apresentar o livro «Breve historia da Coluna Sanfins» e a campanha de crowdfunding para o financiamento do monumento, teve lugar a descoberta do monumento dedicado aos integrantes da Coluna pela sua luta pela liberdade, com umas breves palavras de companheiros da Comissão pela Recuperação da Memória Histórica da Corunha e da Barbança, da representante do Concelho que facilitou o espaço para a instalação do monumento e do grupo de MH da CNT Galiza.

O ato continuou com a participação musical do grupo Nota Bene, de Redondela, que ofereceu aos e às assistentes um variado repertório para dar passo à romaria no Chão das Minas.

Para finalizar a jornada, o roteiro libertário guiado por Joám Evans mostrou aos e às participantes os lugares mais importantes do contexto mineiro e sindical, que de literário poderia ter apenas o carácter «épico» da luta, da solidariedade e da resistência.

Homenaxe á Coluna Sanfins

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